segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Resenha de "Crer é Também Pensar" de John Stott

Por Epaminonas Bonfim

Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas não têm orientação
[pg. 7]. Assim, parafraseando Romanos 10:2, inicia John Stott o seu livro "Crer é Também Pensar". Stott faz um convite ao abandono do "Cristianismo de Mente Vazia", expressão que nomeia o capítulo primeiro do livro. O lord expõe com maestria e em poucas páginas o sonhado equilíbrio entre a fé e a razão.

O anti-intelectualismo no combate ao intelectualismo. O caminho do "coração que foca as energias" em um sentido que não conhecido. Como uma mangueira emitindo um forte jato de água que não tem alguém que a conduza. Tudo porque o "conhecer produz soberba". Ou os excessos dos pensadores, por outro lado, os tornam tão "engessados" quanto os sobreviventes de um acidente. Vêem, cheiram. Estão vivos e lúcidos, mas não produzem nada. Portanto, estão como que mortos. Mas o foco do autor é explicar que um dos fundamentos do viver cristão é usar a mente – o dicernir.

Stott aponta três resultados do anti-intelectualismo: o ritualismo com sua frieza e apatia, o radicalismo da ação social com o assistencialismo sem as mudanças internas no coração e o enfoque somente na experiência gerando os arrebatamentos de sentidos, como "eu senti", com aberrações que produzem outra coisa que lembra os cultos pagãos.

Mas que relação tem o pensamento com a fé? É a fé algo sem lógica, sem explicação? Através da exposição de II Coríntios 10.4-5 o autor enfatiza uma batalha de idéias, a verdade de Deus vencendo as mentiras dos homens [pg. 12]. Menciona em Gênesis 2 e 3 o homem comunicando-se com Deus. O "entendimento" é uma peculiaridade do homem, portanto não deve ser ignorado. Fazê-lo é diminuir a obra de Deus. E a Queda do homem não o exime da responsabilidade de pensar. Desculpa muito utilizada na ênfase à emoção, mas já que o lado emocional da natureza humana está igualmente decaído [pg. 16] as experiências emocionais não representam um significativo conhecimento da pessoa de Deus.

Então como é resolvido o impasse? O homem ao entender a pregação recebe em si a fé. Entendo na exposição de Stott que esta nasce mediante a compreensão da Palavra. Tudo porque Deus se revela de três formas: na Natureza, na Escritura e n'Ele mesmo. O ápice da revelação se dá na pessoa de Jesus. Este que reúne, em si, essas maneiras anteriores, pois viveu como homem carnal [máxima expressão da natureza], e é o Verbo de Deus [o Evangelho é o próprio Cristo] e também O Filho de Deus [o caráter de Jesus é idêntico ao do Pai]. E a percepção da revelação é uma atividade da mente. Um ato racional segundo o autor.

A revelação está "escancarada" ao olho humano. Mas este a ignora. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação [I Coríntios 1.21]. O criador foi insultado pelo homem que recebera de Deus a capacidade de percebê-lo – conhecê-lo. Mas pecou e deu mais ênfase ao querer a compreender a si mesmo a partir do estudo da Natureza, e não do projeto original de Deus. Então o amor de Deus transformou em loucura o insulto da sabedoria humana. Mas eu vejo que o Espírito Santo possui um papel fundamental nesse processo. Não como um "lavador de mente", sim um agente de arrependimento e transformação na decaída consciência humana. Uma transformação de mente que resulta em mudança radical que se refaz pelo pleno conhecimento segundo a imagem daquele que o criou [Colossenses 3.10].

Para Stott o caminho do cristão é chegar a pensar igualmente como Deus. Então o culto, a fé cristã, a santidade cristã, a direção cristã, a evangelização e o ministério cristão estarão segundo a vontade de Deus porque a criatura, de fato, entenderá o Criador. Este processo é muito laborioso e, enquanto isso não ocorrer, ao meu entender seremos apenas feiosas caricaturas procurando exibir ao mundo o caráter de Deus. Eu creio na proposta mente e sensibilidade juntos no caminho da reconstrução do ser humano. Pensar é extremamente importante. Stott não convida ao abandono as experiências do "sentir". Apenas menciona que esse não deve ser o foco. O livro é realmente desafiador.

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